Pearl Jam não acabou apenas com o Lolla 2013,
mas também com os fãs
João Jacetti
Lá atrás a fumaça ainda
era jogada pro alto por D2 e seu planeta, mas já tinha uma galera esperando na
frente do palco vazio. Palco vazio. Carente de Kurt, carente de Layne.
Exatamente como a galera que esperava. Galera carente de rock. Daquele rock de
garagem que dói na alma, sabe? Mas o grunge não morreu.
Era o último show
depois de um fim de semana inteiro de Lolla, mas, cá entre nós, um festival que
se encerra com Pearl Jam não é exatamente um festival para os fãs da banda.
Tudo acaba sendo uma grande abertura para o que está por vir.
Quando falta pouco para
começar, percebe-se a ansiedade normal de qualquer show: “Será que vai tocar
essa?”, “Espero que seja bom!”. Mas, quando começa, não é qualquer show.
Logo de cara uma do VS. e uma do Ten, só pra mostrar que não pouparão os clássicos. A terceira é um
cover de Pink Floyd e não tem mais
ninguém carente. Com que facilidade conduz uma plateia o tal do Eddie Vedder. E
a voz continua incrível como a do vinil.
Em Do The Evolution a coisa sai do controle: o palco se incendeia e a
plateia canta a letra toda, o Jockey só não desmorona porque a seguinte é Wishlist e todo mundo se acalma. O show
fazia isso com perfeição. Eddie colocava todo mundo pra pular, emendava em uma
baladinha e depois energizava tudo de novo. Chega a ser desgastante. “O
repertório é demais”, falou alguém ali do lado. Even Flow é a décima música e parece que o show mal começou.
Daughter,
Jeremy, World Wide Suicide, oito músicas completam
o set list e o público ainda está no meio do transe quando, ao fim da décima
oitava, os cinco abandonam o palco. Ainda falta muita música, é claro que eles
vão voltar.
Tocaram duas ou três
antes de começar Better Man, que
colocou alguns mais sensíveis para chorar. Os menos sensíveis só sentiriam o
baque na música seguinte. Isso porque o que acontece depois é, eu juro, uma das
coisas que mais pode fazer um ser humano se sentir vivo.
O hino da banda pode
até ser Alive, que foi tocada no
finzinho, mas Black provoca algo
indescritível. “Folhas de telas vazias,
peças intocadas de argila”, a primeira frase dá a ideia de que a obra de arte está
começando a se criar. Qualquer pessoa que olhe de fora diria que algo está pra
acontecer, você pode ver a expectativa, o peso, parece que até o ar fica mais
denso conforme as batidas da guitarra e da bateria vão ficando mais intensas. Mais
fortes a cada verso. E é ali no segundo refrão que tudo começa a transbordar.
“I’m Spinning”, gritam com força. E tudo começa a girar, a escurecer, a quase
doer. “Tattooed all i
see, all that i am, all that i’ll be...”.
Depois disso não
adianta mais explicar nada. É um turbilhão. Não há nada além de sentimento em
todos, TODOS. A única palavra para aquilo é emoção, mas ela parece menor do que
precisa ser. Os que ouvem e que, inevitavelmente, gritam com Eddie Vedder a
partir daquele momento são os únicos que sabem o que se passa. É sensorial, é espiritual. Black acaba com você.
O encore de nove
músicas continua em um público entregue ao espetáculo. Em Alive, outro momento diferente da noite. Todos juntos, gritando incontáveis
vezes que estão vivos, se sentindo tão vivos quanto em poucas oportunidades se
sentem. O poder da música é algo espetacular. É exatamente isso, um hino.
Um cover de Baba O’Riley, do The Who presta uma homenagem a quem foi para eles o que eles são
para todos ali. E, para encerrar, Mike McCready faz Eddie chorar com um dos
solos mais belos já ouvidos. Depois de uma noite tão intensa, tão emotiva, tão
pesada quanto essa, nada mais justo do que Yellow
Ledbetter, para passar aquela sensação de paz que todos ali precisavam. Que
qualquer um precisaria.
É difícil explicar, o
show do Pearl Jam acaba com você.
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