Brunna
Vanntin
No
dia 06 de dezembro de 2013, eu fui pessoalmente fazer a cobertura de um show do
Esteban, projeto solo do Rodrigo Tavares, ex integrante da banda Fresno, no
Feeling Music Bar (Vila Mariana/São Paulo).
No
final do show, bati um papo muito tranqüilo com ele, que me recebeu super bem
no camarim. Fiquei surpresa por ele falar tão naturalmente sobre dois assuntos
considerados delicados – a saída dele da Fresno e sua vida pessoal.
Esse
papo você confere agora! Espero que goste!
Entre Bandas: É o
seguinte, você veio da Fresno, e isso trouxe muito público para o seu projeto
solo, e a galera nos shows pede muito pra você tocar músicas da Fresno. O que
você acha disso?
Tavares: Acho
normal, se não fosse pela Fresno, e vice-versa, eu não estaria aqui hoje. A Fresno
deu um impulso gigante na minha vida, e, como eu fiz muitas músicas
consideradas importantes na banda, acho legal tocá-las. Não me incomoda, acho
do caralho, na real, eu não saí da Fresno brigado, saí porque queria sair.
Entre Bandas:
Você não acha que perde o foco do seu projeto solo?
Tavares: Não,
eu acho normal da parte deles pedirem que eu toque músicas que eu tocava na
época da Fresno, pedem até que eu toque músicas no teclado, e, até mesmo
músicas que eu tocava na época da Abril. E eu gosto pra caralho de ter feito
parte da Fresno, isso não me tira nem um pouco do foco, e são músicas minhas
né, eu gosto de ter feito elas.
Entre Bandas: As
suas músicas são muito pessoais, todos percebem. Você se inspira no que acontece
com você, e a galera acaba usando as mesmas situações, pra vida delas. O que
você pensa sobre isso?
Tavares: Mas
é que música é muito livre nesse sentido. Eu posso até ter escrito baseado na
minha vida pessoal, mas isso acaba refletindo na vida dos outros, que interpretam
do jeito que querem. E eu sei que as pessoas não sabem de nada da minha vida,
não sabem o que eu passei, mas o que eu escrevi sobre isso fez elas lembrarem
de coisas que aconteceram com elas mesmas. E essa é a cola que tem com a galera,
de eles entenderem o que eu passo, e eu entender o que eles passam, e isso ser
reflexo na vida um do outro.
Entre Bandas: Isso
liga bastante você aos seus fãs, não é?
Tavares:
Bastante! Pra caralho, na real. Eu ouço muita gente falando que usa minhas músicas
pra seguir em frente na vida, até mesmo nas situações mais bestas possíveis,
como esse lance de conquistar mulher. E eu sou meio pessimista, não acho que é
tão pra frente assim como a galera acha que é. Pra mim não funciona tanto
assim, às vezes era mais um despacho de frustração na época, mas pra eles serve
como uma renovação.
Entre Bandas: Aquele lance de
passar exatamente o seu sentimento pra sua música.
Tavares:
Exato! E interpretem do jeito que acharem melhor pra si, podem usar do jeito
que quiserem na vida.
Entre Bandas: Querendo
ou não, por você ter uma certa fama, tanto a que você conquistou na Fresno,
como agora com seu projeto solo, acredito que qualquer fã acaba querendo
invadir a sua vida pessoal. Isso acontece bastante com você?
Tavares: Eu estou
com uma vida pessoal bem privada. Embora eu e minha mulher - eu nem tanto,
considero mais ela - sejamos pessoas públicas, nós procuramos manter tudo em um
jeito mais tranquilo. Acho que, na época da Fresno, eu expus mais a minha vida,
e, hoje em dia, as pessoas pouco sabem o que eu faço, e eu acho que, na real,
isso é bom. Teve uma época que eu expus tanto a minha vida que as pessoas exigiam
e cobravam muito de mim. E eu estou namorando faz tempo também, o pessoal vê
que eu estou bem. A galera gosta de ver
muitos flashbacks do passado e ficam falando muita besteira.
Entre Bandas: E
você acha que as pessoas acabam te julgando muito HOJE, comparando ao que você
mostrava ser no passado?
Tavares:
Exatamente! E, na real, se eu mal me lembro das coisas mais importantes da
minha vida, como o Inter ganhando a Libertadores, vou lembrar de coisa menos
importante?! Às vezes as pessoas acabam dando muito mais valor para as coisas
do que eu mesmo dei, sabe...
Entre Bandas: E,
como muitos fãs no show de hoje te mostraram, vários deles andam tatuando
frases de composições suas em seus próprios corpos. Isso causa um sentimento
bem forte em você, não é?
Tavares:
Muitas vezes, vendo isso, penso que acertei em muitas frases que a galera anda
tatuando, e isso pode ser visto pelo lado positivo como pelo lado negativo.
Fico feliz em ver que adotaram frases minhas como lema de vida, acho do caralho
isso, ver que posso ter ajudado nisso, ou até mesmo prejudicado, porque pode
ser que agora você ache que está cheio de razão, mas daqui a 40 anos isso pode
não fazer mais tanto sentido, o que é mais provável de acontecer né?! Eu, agora
com 31, já acho que fiz quase tudo errado (risos)... Mas eu acho do caralho
mesmo. Às vezes tu faz aquela frase apenas pra rimar na música, foi o que
encaixou ali, e porra, na vida de alguém essa frase que na real eu só fiz pra
rimar, fez tanto sentido ao ponto da pessoa pensar “vou tatuar isso”. Acho
demais!
Entre Bandas: E
pra galera que está começando agora, você aconselha fazer o mesmo que você?
Colocar todos seus sentimentos em forma de música?
Tavares: Cara,
se for falar de política, de música, de maconha, de amor, de qualquer coisa que
tu for falar, a única coisa que eu peço é que não se leve tudo muito a sério. E
meu, é importante saber se colocar no próprio lugar, não achar que teu lugar é
de ouro. Porque, na real, isso é muito importante na formação do caráter do
músico. Muita banda nova por aí tem mais sessão de fotos do que shows.
Entre Bandas:
Muitas bandas hoje em dia estão mais ligados na mídia, na fama e, consequentemente,
esquecem de levar a música em si mais a sério, realmente.
Tavares:
Exatamente. E do que adianta isso? Quanto tempo dura uma banda dessa? Se eu
quisesse parar de tocar hoje e ser agricultor, vou ter consciência de que por
muitos anos tiveram pessoas que me acompanharam na música, que souberam quem eu
fui e o que eu fiz. Conheço inúmeras bandas que, nossa, ganharam rios de
dinheiro com a música, e hoje ninguém mais sabe quem são, os caras estão
vendendo os apartamentos pra quitar as contas. Então eu prefiro seguir assim,
com a galera que vai me seguindo aos poucos mesmo.
É
isso! Espero ter trazido vocês um pouco mais pra perto desse cara que muitos
julgavam de forma errada, mas que me fez mudar completamente essa visão que
muitos diziam ter sobre ele. Valeu,
Tavares! E até a próxima!
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