![]() |
(Foto: Facebook/divulgação) |
Camila Pasin
Depois de quatro anos de
Entre Bandas, esse será o primeiro texto que escrevo de uma forma mais pessoal,
deixando as características jornalísticas um pouco de lado. Semana passada, o
cantor Chico Buarque completou 70 anos de idade e logo pensei que gostaria de
escrever algo sobre isso. Confesso que não acompanho o trabalho do cantor
atualmente, mas gosto muito de suas canções mais antigas, especialmente aquelas
compostas durante o período da ditadura militar. Admiro o uso da música e da
arte como ferramenta de denúncia e, mais que isso, a perspicácia de fazê-lo por
meio de metáforas, com uma linguagem que parece se remeter ao simples cotidiano
mas, se lida criticamente, levantando uma significação muito maior.
Tive contato com a obra de
Chico Buarque desde criança por influência da minha mãe, que sempre gostou
muito do cantor e que costuma colocar as músicas para escutar no carro ou até
mesmo em disco de vinil em casa. Lembro-me que eu achava - e ainda acho -
“Cálice” extremamente inteligente. A música, escrita por Chico Buarque e
Gilberto Gil, só pôde ser lançada em 1978, cinco anos após sua origem, passando
pelas tendenciosas mãos da censura brasileira.
Quando comecei a estudar o
período militar no colégio e entender ainda melhor o conteúdo daquelas músicas
já familiares, percebi a força que o movimento cultural tem sob a ordem vigente
e sob a sociedade em si, nem que seja só pela possibilidade de posicionamento e
crítica, durante um regime em que a liberdade é restrita em todos seus
sentidos. Passei a respeitar ainda mais Chico Buarque e outros autores de
letras-manifesto, os quais - imagino eu - deveriam sentir necessidade de
colocar pra fora tudo aquilo que os olhos viam, os ouvidos ouviam, o corpo
sentia e que, na teoria, a boca deveria calar. Canções como “Apesar de Você”,
“Roda Viva”, “Construção”, “Cotidiano” e “Deus lhe Pague” também se remetem
criticamente ao regime ditatorial.
Contudo, o repertório de
Chico Buarque vai além da questão da ditadura. Situações do cotidiano,
preocupações sociais, amor e animadas marchinhas também integram as canções do
cantor, compositor e poeta. Sua percepção no que diz respeito à sensibilidade
feminina também o tornou destaque no cenário do MPB, com músicas em que Chico
assume um eu-lírico feminino e retrata temas através do olhar de uma mulher.
Podemos perceber, nas letras, questões como a violência doméstica, machismo,
desilusões e conquistas amorosas. “Sem Açúcar”, “Atrás da Porta”, “Teresinha” e
“Olhos nos Olhos” são algumas dessas canções.
Bom, destaquei, nesse texto,
elementos da obra de Chico Buarque que mais se fizeram presentes para mim e que
tornaram-me sua admiradora, assim como minha mãe já era desde sua adolescência.
Não conseguiria, de qualquer maneira, resumir toda a obra do cantor em poucos
parágrafos satisfatoriamente, portanto decidi fazer essa homenagem aos 70 anos
de Chico Buarque mostrando de que forma ele contribuiu para meu entendimento
sobre a música brasileira dos anos 60 e 70 e, até mesmo, sobre importantes
elementos da história de nosso país, no âmbito político, social e
comportamental, no mesmo período. Parabéns e obrigada, Chico!
Nenhum comentário:
Postar um comentário