sexta-feira, 27 de junho de 2014

Uma homenagem a Chico Buarque

(Foto: Facebook/divulgação)
Camila Pasin

Depois de quatro anos de Entre Bandas, esse será o primeiro texto que escrevo de uma forma mais pessoal, deixando as características jornalísticas um pouco de lado. Semana passada, o cantor Chico Buarque completou 70 anos de idade e logo pensei que gostaria de escrever algo sobre isso. Confesso que não acompanho o trabalho do cantor atualmente, mas gosto muito de suas canções mais antigas, especialmente aquelas compostas durante o período da ditadura militar. Admiro o uso da música e da arte como ferramenta de denúncia e, mais que isso, a perspicácia de fazê-lo por meio de metáforas, com uma linguagem que parece se remeter ao simples cotidiano mas, se lida criticamente, levantando uma significação muito maior.

Tive contato com a obra de Chico Buarque desde criança por influência da minha mãe, que sempre gostou muito do cantor e que costuma colocar as músicas para escutar no carro ou até mesmo em disco de vinil em casa. Lembro-me que eu achava - e ainda acho - “Cálice” extremamente inteligente. A música, escrita por Chico Buarque e Gilberto Gil, só pôde ser lançada em 1978, cinco anos após sua origem, passando pelas tendenciosas mãos da censura brasileira.

Quando comecei a estudar o período militar no colégio e entender ainda melhor o conteúdo daquelas músicas já familiares, percebi a força que o movimento cultural tem sob a ordem vigente e sob a sociedade em si, nem que seja só pela possibilidade de posicionamento e crítica, durante um regime em que a liberdade é restrita em todos seus sentidos. Passei a respeitar ainda mais Chico Buarque e outros autores de letras-manifesto, os quais - imagino eu - deveriam sentir necessidade de colocar pra fora tudo aquilo que os olhos viam, os ouvidos ouviam, o corpo sentia e que, na teoria, a boca deveria calar. Canções como “Apesar de Você”, “Roda Viva”, “Construção”, “Cotidiano” e “Deus lhe Pague” também se remetem criticamente ao regime ditatorial.

Contudo, o repertório de Chico Buarque vai além da questão da ditadura. Situações do cotidiano, preocupações sociais, amor e animadas marchinhas também integram as canções do cantor, compositor e poeta. Sua percepção no que diz respeito à sensibilidade feminina também o tornou destaque no cenário do MPB, com músicas em que Chico assume um eu-lírico feminino e retrata temas através do olhar de uma mulher. Podemos perceber, nas letras, questões como a violência doméstica, machismo, desilusões e conquistas amorosas. “Sem Açúcar”, “Atrás da Porta”, “Teresinha” e “Olhos nos Olhos” são algumas dessas canções.

Bom, destaquei, nesse texto, elementos da obra de Chico Buarque que mais se fizeram presentes para mim e que tornaram-me sua admiradora, assim como minha mãe já era desde sua adolescência. Não conseguiria, de qualquer maneira, resumir toda a obra do cantor em poucos parágrafos satisfatoriamente, portanto decidi fazer essa homenagem aos 70 anos de Chico Buarque mostrando de que forma ele contribuiu para meu entendimento sobre a música brasileira dos anos 60 e 70 e, até mesmo, sobre importantes elementos da história de nosso país, no âmbito político, social e comportamental, no mesmo período. Parabéns e obrigada, Chico! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário