João Victor Jacetti
Segundo
um primo meu, existem certas bandas que "não definem caráter". É um
pensamento meio estranho, mas que tem alguma lógica. Ele tem essa ideia, com a
qual eu concordo, de que ao sabermos as bandas preferidas de uma pessoa
acabamos conhecendo um pouco (ou bastante) sobre ela. No entanto, segundo ele,
algumas bandas não dizem nada sobre a pessoa, isso porque são bandas que
"todo mundo gosta".
É
meio confuso, eu sei, mas dá pra esclarecer com um exemplo: se alguém diz que é
super fã de Slipknot, Metallica e Megadeath, já começamos a imaginar a
personalidade dela. É claro que essa imagem que temos é baseada em
estereótipos, generalizações e até preconceitos, mas há de se convir que, na
maioria das vezes, vários traços se preservam. Essa pessoa provavelmente é bem
diferente de uma que gosta de Los Hermanos, Móveis Coloniais de Acaju e Arctic
Monkeys... Entende?
Okay,
até aí tudo bem, mas segundo ele o problema surge quando uma pessoa diz que é
fã de Beatles, por exemplo. Uma pessoa que gosta de Beatles, ou de Queen, não
te entrega nenhuma caracteristicazinha que seja sobre si mesma, a não ser o
fato de não ser maluca!
Além
das duas já citadas, Foo Fighters, U2, Maroon 5 e algumas outras já foram
cogitadas para essa lista.
Minha
crítica a essa teoria entra agora. Na minha opinião, é verdade que "todo
mundo" gosta dessas bandas, mas, quando ela diz que uma dessas é sua banda
PREFERIDA a coisa muda de figura. O fã de Queen que ouve oito músicas pode ser
qualquer um, mas o que ouve todos os álbuns inteiros é um pouco mais
transparente.
Tudo
isso foi dito apenas para que você entenda a próxima frase: Desculpe, meu
primo, mas se um show do Red Hot Chili Peppers não define caráter, nada define!
Otherside, By
The Way, Californication, Give It Away, Dani California, Scar Tissue, Snow,
Can't Stop, Under The Bridge, Around The World... É verdade. Anthony, Chad, Flea e
Frusciante podem fazer um show inteiro só de músicas que não definem caráter. Por
isso, até entendo que ela seja classificada como uma dessas. Mas a questão é
que é exatamente o show que te impede de pensar assim.
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Em 2013, o Anhembi se encheu de fãs daqueles que sabem cantar até o baixo das músicas (Fonte: Vírgula UOL) |
Em
primeiro lugar, quando os californianos vieram para o Brasil em 2013, já
desfalcado do guitarrista, eles fizeram questão de mesclar ao setlist algumas
coisas bem menos manjadas, como If You Have To Ask, Factory Of Faith, Ethiopia
e I Like Dirt. Em segundo lugar, nem todas as manjadas foram tocadas (Scar
Tissue, por exemplo). E em terceiro e mais importante, o único jeito de
entender a pegada do Red Hot é assistindo o Show, coisa que com certeza não é
todo mundo que já fez.
Você
pode ouvir três músicas e acabar concluindo que eles são uma banda bem lentinha
e romântica. Ou ouvir outras três e pensar que os caras são meio pauleira.
Dependendo das três, você pode nem perceber que é rock. Mas olhando o que
acontece no palco dá pra entender o que eles são, dá pra entender quem gosta
daquilo. E o fã verdadeiro de Red Hot sabe o que eles são. E sabe que são
únicos.
Tem
funk no rock deles. O Jam de bateria vem acompanhado de uma percussão
brasileira. O guitarrista (Josh, na ocasião) fica na sua própria brisa paralela
enquanto Anthony luta boxe imaginário e Flea simplesmente surta. As coisas que
passam no telão eu nem me arrisco a explicar. O show tem momentos para pular,
para cantar, para sentir, para pular, cantar e sentir! Todas essas coisas se
encontram de maneira mágica e fazem um sentido quase irracional. Não dá para
definir direito o que o Red Hot quer passar, mas dá para saber que não é
qualquer um que realmente recebe.
Bom,
se algum dia você quiser realmente entender em que momento um fã de Red Hot
passa a ter caráter definido, faça algo muito simples. Pergunte assim: "O
que você sentiu quando eles começaram a tocar Dosed no meio do show em São Paulo ?".
Não
vale a pena descrever melhor o show do Red Hot. Talvez ele deva ser resguardado
para os fãs que definem caráter... E para os outros, sobram "só" 10
ou 15 músicas sensacionais que, cá entre nós, são bem melhores ao vivo...
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